Psicóloga Responde

Dicas úteis para o dia-dia

Nossas emoções

Algo bem característico de nossas emoções é que as sentimos antes de ter tempo para pensar. E nossas reações parecem ser “automáticas”. Alguém que se sinta agredido, ofendido, raramente consegue administrar seus pensamentos, reage sem pensar. Quase todo mundo é assim. Por isso, não julgue ninguém sob emoção forte. Perde-se a lucidez nestas horas! Podemos dizer que ficamos como em um cárcere emocional.
Muitos de nós aprendemos que determinadas emoções são um problema. Por exemplo: “homem não chora!” Entretanto, a emoção em si não é o problema. Problema é não saber lidar com ela: quando se tende a abafá-la ou a ter sobre ela um rígido controle a negá-la ou desprezá-la criamos situações onde elas tenderão a nos encarcerar…
As emoções são SEMPRE uma reação a alguma situação que vivemos. Uma reação a como interpretamos o mundo e a nós mesmos. Veja exemplos:
Nos nossos relacionamentos com os outros:
• Sentimos culpa quando pensamos ter feito alguma coisa errada.
• Sentimos mágoa quando achamos que alguém de quem gostamos nos fez um mal.
• Sentimos ciúmes quando achamos que querem nos “roubar” alguém de quem gostamos
• Sentimos inveja: quando achamos que merecemos mais alguma coisa que outro tem.
• Sentimos raiva quando achamos que estão nos contra nós, nos prejudicando.
No nosso relacionamento com nós mesmos:
• Sentimos frustração quando não conseguimos alguma coisa que achávamos que íamos conseguir.
• Sentimos êxtase quando obtemos alguma coisa que excede muito nossas expectativas.
• Sentimos arrependimento quando achamos que fizemos uma besteira.
• Sentimos esperança quando confiamos no futuro (achamos que vai dar certo).
• Sentimos tédio quando não encontramos fontes de alegria e achamos tudo aborrecido.
• Sentimos euforia quando achamos tudo bom demais.
Cada uma dessas emoções é conseqüência do modo como interpretamos a situação, do modo como enxergamos o mundo.
I – O MECANISMO DAS “REAÇÕES EMOCIONAIS”
Vejamos alguém com medo de barata…

As reações emocionais são acionadas pelos SIGNIFICADOS daquilo que percebo no mundo. Se quero passar por uma transformação “emocional”, o mais efetivo é transformar estes significados. O que funciona é VER AS COISAS DIFERENTE!
II – EMOÇÕES E AUTO-CONHECIMENTO
Nós freqüentemente supomos que “se alguém pode saber sobre as minhas emoções, este alguém sou eu!”. Descartes, o famoso filósofo francês, disse alguma coisa como: “é impossível para a alma sentir uma paixão sem que esta paixão seja como é sentida”. Como se a nossa alma não pudesse estar enganada sobre o que sente. Mas, no mesmo livro, apenas uma página depois, ele escreveu: “as pessoas que são mais agitadas pelas paixões não são as que as conhecem melhor”…
De fato, as emoções são um de nossos principais caminhos para o auto-conhecimento. Saber sobre o repertório de nossas reações emocionais é uma das principais maneiras de nos conhecermos! Mas, ao mesmo tempo, as emoções são a causa de muitos fracassos no auto-conhecimento. A complexidade delas nos engana, porque elas próprias podem ser o resultado de um engano uma vez que envolvem sempre uma interpretação.
São, principalmente, três as fontes de engano relativas às emoções:

1. A primeira surge da conexão das emoções com as mudanças corporais. Como nós podemos controlar algumas destas mudanças, podemos dissimular facilmente algumas emoções, consciente ou inconscientemente e, às vezes, podemos ser pegos em nossa própria dissimulação: sorrir quando estamos com raiva, chorar quando não estamos tristes. Como, freqüentemente, identificamos nossas emoções pelas sensações corporais, se usamos este tipo de dissimulação, certamente estaremos distorcendo nossa percepção do que realmente sentimos!

2. Uma segunda fonte de auto-engano surge do papel das emoções em determinar a importância relativa entre as coisas. Os poetas sempre souberam, por exemplo, que uma conseqüência obvia do amor é redirecionar nossa atenção: quando eu amo, eu não noto mais nada no mundo, apenas a pessoa amada, sem defeitos! Quando, por alguma razão, este amor se transforma em raiva, eu ainda mantenho o foco na pessoa, mas agora em seus defeitos. Isto deixa claro como a maneira de olhar alguma coisa muda substancialmente o que sentimos por ela. Mostra como o que sentimos é dependente de possíveis pensamentos inconscientes que possamos ter! Mostra como o inconsciente pode ser fonte de erros de interpretação. Portanto, cuidado! Onde há coisas inconscientes, lá mora o perigo.

3. A terceira fonte de auto-engano: o quanto as normas sociais influenciam na determinação de nossas emoções. Se eu estou sofrendo uma emoção que parece imprópria, fora de propósito para a ocasião, eu vou tentar dar uma “explicação” para isto e, consequentemente, minha auto-percepção se perde. Veja um exemplo: o marido que fica com uma raiva fora de propósito de sua esposa porque ela lhe chamou a atenção. Ele provavelmente sentiu-se “tratado como criança”, e ficou revoltado com isso. Afinal, as mulheres devem “respeitar a autoridade do marido” (“quem é o homem da casa?!!”). Mas ele não quer deixar transparecer que deixou-se “abalar”. O que provavelmente vai fazer é jogar a culpa do acontecido nela… Tudo para ser “aprovado socialmente” ou “não ficar mal”.
De todo jeito, o importante é evitar estes auto-enganos para não sair por aí “chutando o balde” por causa deles. Nossas emoções devem servir para nos ajudar a viver e não para nos meter em confusão. Será que sabemos o que sentimos e porque sentimos as coisas? Será que sabemos nos observar e descobrir quem somos através das nossas emoções, ou será que elas nos enganam facilmente?…
III – LIDANDO COM AS EMOÇÕES
Milton Erickson, psicanalista e psicoterapeuta americano, dá algumas dicas importantes para lidar de forma positiva com as emoções:

1. Reconhecer: perceba sua alteração física, permita-se perceber-se sob uma determinada emoção.

2. Admitir: dê um nome pra sua emoção. Exemplo: “O que estou sentindo é Raiva”

3. Respeitar: perceba qual é o papel de sua emoção, que “recado” ela traz pra você. Um estado emocional é sempre útil. A função do ciúme, por exemplo, é mostrar que algo pode estar ameaçando uma relação que é importante pra você.

4. Admirar: Veja como ter emoções é bom pra você. As emoções estão para o aparelho psíquico como a dor está para o biológico, sem elas é impossível viver. Sem emoções você não teria sobrevivido ou evoluído na vida: o medo nos protege, os desejos e as paixões nos impulsionam… Que bom que seu corpo é capaz de alertá-lo quando acontecem coisas importantes na sua vida! As emoções são essenciais para toda tomada de decisões: elas é que sinalizam o que fazer!

5. Utilizar: Consciente disso, agora tente interpretar mais objetivamente seus estados emocionais e tornar automática estas interpretações, melhorando as respostas a elas e suas relações interpessoais. “Sempre que me sentir enraivecido, procurarei por contrariedades, frustrações que acho que estou sofrendo para fazer algo a respeito!” Quando “tomamos uma providência” a respeito de nossas emoções, quando sabemos lidar com elas, nossas reações são mais equilibradas.
IV – AS EMOÇÕES E NUM INVENTÁRIO DE VIDA
Um inventário é um método para levantar dados que possibilite a tomada de providencias. É um esforço para descobrir o real estado das coisas e poder tomar as ações necessárias. Se o dono de um negócio quer ter sucesso, não pode enganar-se ou deixar-se enganar. Com a vida é parecido: o inventário serve para fazer uma revista no passado, com meticulosidade e HONESTIDADE e descobrir os erros que aconteceram, começando por nós mesmos, para poder tomar providências para reparar o que for possível e, mais ainda, descobrir por quê os praticamos e aprender com eles. Certamente nossas emoções têm um papel crucial nisto.

A) É provável que descubramos, por exemplo, que o ressentimento foi (e talvez continue sendo) a fonte número um de problemas. Ele destrói nossas vidas mais do que qualquer outra emoção porque afeta insidiosamente nossa maneira de ver o mundo e as pessoas. Ressentimento parece raiva, para você? É mais complexo do que isso. O ressentimento aparece quando achamos que alguém nos “sacaneou” em situações nas quais, no fundo, o culpado fomos nós mesmos, mas não queremos admitir. Aí, pomos a culpa no outro e ficamos com raiva dele. Algo como ficar descontrolado, dar murro na ponta de uma faca e culpar a faca pela dor… Se fizermos uma auto-análise para descobrir e listar as pessoas pelas quais nutrimos ressentimento, frequentemente perceberemos que foram (ou são) aquelas que, de alguma forma, feriram nossa auto-estima, nosso amor-próprio, e a raiva subiu à nossa cabeça nos levando a achar que o mundo todo estava contra nós. Negar-se a perceber a nossa parte na história só vai fazer com que doa cada vez mais, enquanto mergulhamos num processo de auto-piedade: nós, “pobres vítimas do mundo”. Uma posição, num certo sentido, muito cômoda: por a culpa em outros por algo cujo responsável sou eu e ficar com raiva do mundo por ser injusto, mau, comigo… A única saída para isto é fazer um inventário HONESTO, admitir NOSSO erro, assumir nossa responsabilidade e corrigi-lo. Para isto é importante sermos capazes de perceber que, se alguém realmente nos fez mal, provavelmente foi porque tinha também suas questões, sua “doença emocional”. Ninguém prejudica ninguém por ser MAU. Se o faz é porque também tem sofrimentos, medos, emoções desencontradas que o impulsionam a agir assim. É bom, nesta hora, lembrar-se de ter serenidade, encontrar a tolerância, paciência, ter para com ele, alguém provavelmente tão atormentado quanto você, a boa vontade de compreendê-lo como o faríamos com um amigo. Sabemos bem o que é estar sob jugo de emoções conturbadas. É melhor evitar discussões e retaliações, pois de nada serviriam para ajudar a resolver a situação. Seria pior para ambos. Ganhamos mais ao por de lado os erros dos outros e procurar os nossos próprios, pois, estes, podemos reparar e aprender com eles. Onde fomos egoístas, desonestos, individualistas, medrosos? Muito embora uma situação conflituosa não a seja apenas por nossa causa, ganhamos mais nos preocupando apenas com a nossa parte nela.

B) O medo também é muito importante num inventário. Ele nos fez cometer muitos erros e injustiças. O medo está presente em quase todos os aspectos de nossa vida. Muitas situações penosas e difíceis de lidar por que passamos foi criada por ele: NOSSO medo. Mais uma vez, circunstâncias complicadas de nossas vidas que foram geradas por nós mesmos. É fundamental levantar onde, quando e por quê tivemos medo e quais foram as conseqüências dele para podermos fazer algo para reparar e para poder enfrentá-lo melhor da próxima vez.

C) A culpa é outra coisa que é fundamental examinar. Ao longo da nossa vida provavelmente fizemos muitas coisas com muitas pessoas de que nos arrependemos hoje. Freqüentemente com as pessoas que mais nos amam e que mais amamos. Isto pode gerar um sentimento de culpa intenso que, muitas vezes, pode ficar inconsciente. E, como tudo que é inconsciente, muito difícil de lidar. Podemos fazer coisas horríveis conosco mesmos para nos castigar e tentar expiar uma culpa inconsciente.

D) Precisamos pensar também nos sentimentos que nós provocamos nas outras pessoas que podem tê-las levado a se desentender conosco. Será que provocamos inveja, suspeita, amargura? O que será que fizemos para isso? O que poderia ter sido feito diferente? Lembre-se de que as mesmas coisas que você sentiu em relação às outras pessoas: ressentimento, medo, etc., elas também devem ter sentido por você, muitas vezes pelas mesmas razões. O mais comum é que imaginemos que só nós temos problemas e que as pessoas com quem tivemos atritos eram apenas parte dele. TODOS nós temos uma problemática muito parecida.
Fazer um inventário de como tem sido nossa vida e nossos relacionamentos, usando nossas emoções como guia, pode ser um ótimo recurso para o auto-conhecimento e o crescimento pessoal (e até profissional).
V – CONCLUSÃO
Nossas emoções são manifestações corporais de nossos estados psíquicos, determinados pelos significados que damos às coisas que nos acontecem: são um sintoma do que acontece em nosso “mundo interior”. Aprendendo a usá-las, adquirimos um excelente instrumento, tanto para nos conhecermos melhor quanto para podermos tomar as providencias necessárias para construir uma vida melhor, mais rica e mais cheia de realizações.

27 de Agosto de 2012 Posted by | emoções | 3 comentários