Família
Esta foi uma entrevista que concedi a mídia sobre a família.
Vale conferir para perceber que sua família é como todas as outras!
A família é a instituição mais impune que existe?
Assim como cada pessoa é diferente, cada família também é única e singular.
Algumas pessoas sentem-se psíquica e emocionalmente punidas pelas palavras de seus pais e/ou dos filhos. Quando acontecem comparações, falta de reconhecimento; expectativas diferentes do que os filhos podem ser; cobranças, exigências, pressões por parte dos filhos e/ou dos pais há punição. Penso até que dependendo da família ela pode ser a instituição que mais pune. Porque quando há amor em jogo os deslizes doem, magoam e punem muito mais.
– Os valores familiares podem resistir à ampliação exponencial do acesso à informação?
Depende de como os valores são transmitidos. Se os valores respeitam a individualidade de cada integrante da família e oferece espaço para diálogo, tais valores serão introjetados de forma mais verdadeira, consistente e duradoura.
O choque de gerações, o papel da sociedade e a influencia da informação também é tema para dialogar entre os membros da família. Quanto mais abertura e espaço para expressar o que sente e pensa, mais os valores da família poderão resistir. Porque não será algo imposto, e sim construído entre todos.
– Se o conceito tradicional de casamento não satisfaz mais as necessidades da contemporaneidade, como explicar o crescimento anual no número de matrimônios?
Pode ser que as pessoas casam mais justamente porque é mais fácil dissolver. O casamento está se tornando algo corriqueiro, sem tanto compromisso. Então casar ficou mais fácil.
– Qual a expectativa entre acadêmicos sobre o futuro da família?
Particularmente, penso que a família perdurará por muitos e muitos anos. É uma instituição que nos protege, é um meio de garantir nosso instinto de preservação e nossa continuidade. A diferença das famílias mais antigas, atuais e provavelmente futuras, é que elas estão se disseminando, ou seja, as crianças têm irmãos só por parte de mãe, ou só por parte de pai, ou só de consideração e por ai vai.
A dificuldade maior é administrar os ex e as ex, e os filhos dos diferentes casamentos.
Tem aparecido muita gente sentindo-se menos considerada pelos pais em relação aos filhos do casamento atual. Isto faz um mal danado para a autoestima.
As pessoas sofrem por sentimentos de exclusão, rejeição, abandono, desconsideração e menos valia.
Sugiro que os pais procurem um profissional para aprenderem a lidar com esta situação para não gerarem filhos que sofram e desenvolvamm este tipo de registro familiar quando por sua vez tornarem-se pais..
– Por que a poligamia não é admitida no Brasil?
Pode ser que no Brasil as pessoas são mais possessivas. Nós não temos esta cultura que já vejo começar a pipocar na Europa, por exemplo.
– A criação e o ambiente familiar podem ser responsáveis por algum tipo de trauma irreversível?
Sim, sem dúvida: abuso moral ou físico/sexual e maus tratos de qualquer ordem podem causar traumas irreversíveis, mas com a ajuda de um profissional qualificado, a pessoa traumatizada poderá superar e fortalecer-se para construir uma vida melhor, mais verdadeira e criativa.
O ambiente familiar intrusivo e invasivo demais, ou negligente demais na fase em que o filho está na tenra infância poderá resultar no desenvolvimento de defesas crônicas e em situações mais radicais em esquizofrenia no bebê e este funcionamento psíquico é irreversível.
– Existe alguma relação entre os índices de violência doméstica e delinquência?
Sim. Uma criança que sofreu maus tratos poderá se tornar uma delinquente, poderá roubar, vadiar, mentir, até matar como um sinal de que necessita acolhimento e contenção ambiental, porque a mãe-ambiente não pôde dar.
A pessoa rouba num movimento antissocial centrípeto – de fora para dentro, como uma compulsão em receber do ambiente o que lhe faltou, o que a pessoa sente que era seu por direito e o ambiente roubou dela. O delinquente sai vadiando pelas ruas num movimento antissocial centrífugo, de dentro para fora, também compulsivamente numa busca desenfreada em encontrar o ambiente que vai acolhê-lo e conte-lo. É uma busca compulsiva por alguém significativo junto a quem a pessoa poderá constituir-se.
Estes atos delinquentes são inconscientes e acontecem porque o ser humano só se constitui na presença de alguém significativo e se a pessoa não teve, irá buscar de todas as formas até encontrar ou morrer.
Existem pessoas que encontram a contenção e o ambiente acolhedor nas religiões.
– Em comparação com outras formas de agrupamento social durante os séculos, a monogamia e a família compõe mesmo a condição mais sustentável para uma vida plena?
Se for em nome da sociedade, não.
Cada pessoa é única e singular e possui sua maneira particular de sentir-se plena. Uns são a família, outros a profissão, outros religião, outros a luta por ideais, e por ai vai. Em minha opinião o que torna uma pessoa plena é conhecer-se a ponto de saber a sua vocação. E não ser obsessiva num só campo da vida, mas transitar entre as possibilidades de vir a ser: família, profissão, esporte, cultura, ideal de vida, etc…
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