Psicóloga Responde

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Amor Não Correspondido – Aprenda a lidar com essa dor!

Amor Não Correspondido

Recebi uma comovente mensagem de um “desiludido no amor”. Sei que nessa frase transgredi por resumir um ser humano pelo viés de um de seus sentimentos, contudo, me explico; é que a dor era tamanha que o pobre homem foi consumido pelo sofrimento, e assim, todas as outras características estavam, por ora, engolidas pela dor da rejeição.

Portanto, eis aqui minha resposta para ele, e também para você que sofre tanto com esta dor.

Em primeiro lugar vamos compreender os dois tipos de amor não correspondido a fim de distinguir que tipo de amor não correspondido estamos atravessando:

Tipo 1 – Amo alguém numa intensidade e não sou correspondido na mesma intensidade; sempre tenho a sensação desconfortável que amo mais. E o que significa amar mais? Na prática é querer estar mais tempo perto, realizando mais atividades juntos e por isso, dentro de mim fica a desconfortável sensação que ele é mais importante para mim do que eu sou para ele… A palavra importante que acabei de usar merece atenção especial: Importante significa importar para dentro. Ou seja, tenho um sentimento triste me comunicando que importo a pessoa que amo mais para dentro de mim, dos meus pensamentos e sentimentos, ou seja importo ele para dentro do meu mundo interno muito mais, do que ele importa a mim para dentro de si.

Tipo 2 – Amo alguém que não me ama, ou que não me ama mais, mesmo que em algum dia já amou.

No primeiro caso em que há reciprocidade no afeto, mas não na mesma intensidade, minha resposta está relacionada com as diferenças. Sim, somos diferentes em nosso aspecto, em nossas digitais, cada pedacinho da nossa pele é formada por “desenhos diferentes”, do mesmo modo, cada pessoa apresenta ritmos diferentes, tempos diferentes, necessidades diferentes, interesses diferentes, uma história de vida diferente e uma compreensão da vida, do mundo, do outro e de si diferente. Portanto, duas pessoas não se encontram na mesma sintonia durante todo o tempo. Já é um milagre os raros momentos em que estão na mesma frequência. E nessa diferença de sintonias, notamos que a pessoa que é muito intensa na relação pode estar transferindo para a pessoa amada carências antigas. Talvez esperando que o parceiro compense a falta de amor que ela sofreu no passado, na ânsia que o parceiro atual tampone lacunas de afeto antigas, que ficaram abertas aguardando para serem preenchidas. Enfim, se relaciona com a expectativa, que o parceiro atual pague uma conta afetiva que não é dele. E por isso, pode ficar um tanto obcecado/a e obsessivo/a.

Agora você poderá perguntar: qual a diferença entre obcecada e obsessiva?

A resposta para essa pergunta nos ajudará a compreender melhor esse tipo de dor do amor, pois, tanto a obsessão quanto a obcecação geram muita angustia e ansiedade:

A raiz da palavra obcecado vem do latim tornar cego. Mas, que cegueira é essa? Não se trata de uma cegueira relacionada a incapacidade do nervo óptico transmitir informações visuais entre o olho e o cérebro. Significa que a pessoa focou tanto num único alvo que ficou cega para todas as outras possibilidades que existem. Isso faz todo o sentido, uma vez que o obcecado colocou toda o foco, a energia e a atenção na pessoa amada não sobrou olhos psíquicos para enxergar nada mais. Assim, o interesse por um único objeto secou a pessoa. Análogo a necessidade de apertar o olho quando miramos algo, e então, o campo de visão fica muito estreito e restrito para um único centro de interesse e a gente não enxerga mais nada do que há ao redor.

O obcecado também fica cego até para o próprio alvo, tornando-o muito maior e importante do que na realidade ele é, e perde a capacidade de enxergar o ponto de vista da pessoa amada. Nesse ponto, de fato, o nervo óptico não consegue transmitir informações reais ao cérebro, há um hiato entre o que o obcecado vê, e a realidade. Aí começam os problemas…

Como já falamos, a pessoa demasiadamente intensa, além de obcecada, também pode se tornar obsessiva, palavra cuja raiz também vem do latim que significa a ação de sitiar, assediar. Claro, se a pessoa está com a energia toda canalizada no ser amado, ela se torna invasiva e intrusiva, afinal, o que ela vai fazer com tanta disposição para oferecer para uma única pessoa? O ser amado torna-se o único “brinquedo”que o obsessivo quer brincar.

Além disso , quando estamos cegos para tudo o que existe e esperamos receber todo o nutriente afetivo de uma única pessoa transformando-a em nossa exclusiva fonte de amor, acabamos sufocando-a. Enquanto estamos obsessivos e obcecados por uma pessoa, esta pessoa, se estiver afetivamente saudável está se alimentando de várias fontes diferentes, ela transita por interesses diferentes, consegue receber alimento afetivo da cultura, da natureza, da arte, de amigos, parentes e do mundo.

Então, o que posso fazer? Implorar por migalhas de afeto? Exigir, pressionar e ficar ofendido? Repetindo sempre o mesmo discurso: “eu faria isso e aquilo por ele. Por que ele não faz por mim?”

Não! Quebre esse ciclo imediatamente! Esse pensamento te enfraquece mais e mais.

A solução está em perceber que se você só quer comer açúcar e ficará fraco, faltará nutrientes, fontes diversificadas de vitaminas, proteínas, etc… A mesma coisa acontece com o alimento afetivo, precisamos diversificar as fontes para nos tornarmos afetivamente saudáveis.

A gente namora com muitas coisas, não só com a namorada. A gente namora com discos, livros, amigos, arte, dança, filmes, aulas, viagens, pessoas queridas, etc.

E o que significa namorar? É estar aberto para se relacionar afetivamente, investindo nossa energia sexual, não apenas no sexo em si, mas em tudo que podemos ser penetrados e penetrar psicologicamente, emocionalmente e fisicamente. Aprendendo, conhecendo, se divertindo, se envolvendo…

Essa foi a primeira resposta para a pergunta: Eu amo numa intensidade diferente – Resumindo a resposta: A intensidade pode ser diferente porque os tempos estão diferentes; As vezes temos a sensação que estamos no ainda e ele está no já foi; já passou. Então queremos continuar “brincando” com ele. No entanto, o interesse dele acabou antes do nosso interesse. As vezes só queremos “brincar” com aquela pessoa especifica e com mais nada nem ninguém; e nosso único eleito quer “brincar” com outras coisas do mundo. A solução é: ter consciência e expandir nossas fontes de alimento e trocas afetivas. Precisamos abrir nossos olhos para ver que há vida além da pessoa amada.

Agora falaremos da segunda resposta:

A resposta para a pergunta: Amo alguém que não me ama. Agora, já não se trata de uma questão de intensidade, ritmo ou sintonia; Agora o problema é de outra ordem. Saímos do campo temporal e entramos no campo espacial – Melhor dizendo; entramos no território da qualidade do espaço interno; estamos deslizando em estados emocionais e precisamos novamente lidar com a diferença, mas, outro tipo de diferença, não do tempo, mas do espaço; Sofro porque meu espaço interno está na qualidade de abertura para um tipo de relacionamento com ele. Em contrapartida, o espaço dele está fechado para esse tipo de relação comigo. Estou de braços abertos, oferecendo minha luz e meu calor; E o que ele tem para me oferecer? A noite, o frio e a escuridão. Essa é a diferença da qualidade de nossos espaços internos em relação um ao outro. Esse é um caso mais difícil, porque só resta ACEITAR.

Aceitar não é uma palavra fácil, é fácil falar, mas realizar essa ação interna por em pratica a aceitação na realidade, é muito difícil.

Aceitar é difícil porque nos põe em contato com a nossa impotência e com o nosso limite. Também, mexe com o nosso ego e o nosso orgulho: “Não aceito que ele não está disponível para mim, tanto quanto estou para ele”. E essa constatação mexe muito com a nossa autoestima. O que é muito injusto. Simplesmente porque, o fato dele não me valorizar, tanto quanto eu o valorizo, não é sinônimo de que não seja valiosa, tanto quanto, mais ou menos. Isso pouco importa. O fato dele não me valorizar significa, simplesmente, que ele não enxerga meu valor, meu potencial e meus recursos, e por isso não deseja se alimentar afetivamente do que tenho a oferecer. Infelizmente, temos a mania equivocada de realizar uma equação: se fulano não me valoriza = sou a pior; Se fulano me valoriza = sou a melhor.

Você percebe como é ilegítima essa equação? Porque, na realidade o fato dele me valorizar ou não, não muda quem sou! Então, vamos retirar nossa autoestima das mãos da pessoa amada. Isso nos deixa muito vulneráveis e inseguras. Faz a gente se perder de si mesmo, e nos coloca num vácuo, num vazio que gera muita angustia. Além de distanciarmos de nós, fazendo a gente se sentir muito carente e precisando imensamente de outra pessoa.

Não podemos perder de vista que colocar nossa autoestima nas mãos da pessoa amada, quando não há reciprocidade, faz com que a nossa autoestima caia vertiginosamente. E por que cai tanto a nossa autoestima? Porque, além da equação que mencionei acima, além da dor dele não retribuir ao nosso amor, nos identificamos com ele. Nos identificamos porque necessitamos ardentemente nos aproximar dele, e a identificação é uma maneira ilusória de nos aproximar. A identificação acaba se tornando a única maneira que temos para ficar mais perto da pessoa amada. Assim, imaginamos que somos iguais; Portanto, se ele não me valoriza, me desvalorizo também. E aprisionada nessa dinâmica, posso me sabotar, me maltratar, ter ódio de mim mesma, até o ponto de automutilação. E tudo isso acontece, porque quando nos apaixonamos por alguém, nós endeusamos essa pessoa.

Agora que você já compreendeu a questão da autoestima, vamos continuar conversando sobre a palavra transformadora: ACEITAR, que é entrar em contato com a impossibilidade de me relacionar com tal pessoa, “simplesmente”, porque ela não quer. E o desejo do outro é o nosso limite, é a barreira impeditiva para realizarmos nosso desejo. Temos consciência que já fizemos de tudo, cheguei no meu limite, e cuidado para não ultrapassar dos limites, porque daí podemos nos expor demais, assediar e afastar ainda mais a pessoa amada. E se isso aconteceu, tudo bem, não vamos perder mais tempo precioso da vida nos lastimando e nos remoendo, num remorso absurdo. Quebre esse ciclo doentio!

Então, no momento que aceitamos, e esse é um trabalho interno, é um processo de elaboração, mas precisamos aceitar que ele não quer e esse é um direito dele, e não há o que fazer com relação a isso. Nessa hora, a gente se entristece, porque o nosso amor morreu. Entramos num luto, choramos e enterramos aquilo pelo que acordamos e vivemos intensamente durante algum tempo, e que fez nossos olhos brilharem, o coração bater mais forte, o sangue pulsar nas veias e por esse amor nos sentimos tão vivas e cheias de energia. Depois do luto, colocamos uma pedra em cima numa ato simbólico partir daí, da aceitação, conseguimos retirar nosso olhar dessa pessoa e começar a ver novas possibilidades que estão sob o nosso nariz. Renascemos para os objetos de vida; Aí está a diferença da gente se relacionar com os objetos de vida, e um ser humano. O ser humano exige bilateralidade, e os objetos do mundo só dependem de nós para serem conquistados. O mundo está repleto de riquezas, e nós estávamos cegos, obcecados por uma única pessoa desse universo tão vasto e tão rico de possibilidades. No instante em que erguemos nossos olhos começamos a enxergar muitas pessoas interessantes, novos trabalhos, ideias, cursos, passeios, viagens, elementos da cultura, da natureza, de arte…

De repente, nossa energia represada volta a fluir e começamos a realizar trocas que nos alimentam afetivamente, nos enriquecem e tornamos pessoas maiores e mais interessantes. As vezes olhamos para trás e nos enxergamos tão distante daquele que éramos e nem conseguimos compreender como fomos capazes de existir daquele jeito, com aquela velha e caquética obsessão por alguém…

Ao nos tornarmos mais enriquecidos e interessantes no encontro com mentes notáveis, arte, cultura, viagens, trabalhos, pessoas… nosso jeito de amar também se torna mais sadio e podemos encontrar alguém para viver um amor de verdade!

Um grande abraço,

Léa Michaan 15/02/2018

15 de Fevereiro de 2018 Posted by | sofrer de amor | | 19 comentários

Sofrer de amor – Porque sofremos tanto por amor e de amor?

A maior dor no amor acontece quando as sintonias são diferentes. Nosso amor atual é seduzido por um terceiro, ou não, simplesmente deixou de encontrar em nós os elementos que o levava a nos amar, e enquanto isso, nós permanecemos com os sentimentos focados nele. Nossa mente está ocupada com ele e nós continuamos investindo em saudades, lembranças e desejos frustrados e direcionados a ele. Enquanto ele investe em outra pessoa ou objeto de vida.
Dói muito porque quando perdemos um amor, estamos perdendo um pedaço do nosso passado, presente e futuro.
No passado ele fazia parte da nossa vida e antes mesmo dele chegar, em nossos devaneios sonhávamos com aquele que completaria o “quadro” e quando o encontramos, temos a impressão que a figura do quadro se fechou.
No presente, dói viver sem aquela pessoa ao nosso lado. Nos flagramos sofrendo com a ausência dela.
E nosso futuro dói porque foi planejado junto a pessoa amada. Assim, ficamos sem chão, perdidos no tempo.
Contudo, não podemos perder de visa que a vida é formada por começos, meios e fins, e uma das dores, neste caso, é que o fim chegou antes do esperado. Outra dor é que estamos em sintonias diferentes e por isso no lugar da pessoa amada fica uma ausência profunda.
Porém, não podemos esquecer que esta dor é finita assim como tudo nesta vida porque como mencionei anteriormente nossa vida é formada constantemente de começos, meios e fins. Para que esta dor acabe é necessário não alimentá-la, mas o oposto, desnutri-la. Para isso, será preciso aceitar o término, então choramos um pouco ou um muito; vivemos o luto e cada um de nós no nosso ritmo único e singular, vamos nos libertando pouco a pouco para viver novos amores.
É necessário ter em mente que não há uma única pessoa que completa o nosso quadro afetivo, existem inúmeras possibilidades. Em cada fase, em cada estágio da vida, do mundo e de nós mesmos, outras pessoas podem completar a cena. Este que se foi não é mais aquele que fecha a figura que temos do amor.
Aceitar isto nos libertará de continuar investindo naquele que não nos dará retorno, apenas nos deixará mais e mais desnutridos. E assim, pouco a pouco, respeitando o tempo propício, como uma flor que se abre, nos abrimos para a vida e nos soltamos das amarras sufocantes da dor da ausência daquele que já foi, mas não é mais o amor de nossas vidas.

Léa Michaan,
21/01/2014

21 de Janeiro de 2014 Posted by | sofrer de amor | | 67 comentários