Quando os filhos saem de casa
Síndrome do Ninho Vazio
A síndrome do ninho vazio não é uma doença física, é uma doença das emoções caracterizada por uma dor simbólica, podemos dizer que esta dor é a presença viva da ausência. É aquele vazio concreto que ficou no lugar onde outrora fora ocupado pelos nossos filhos. É uma forma de falar sobre o vazio que impera nos corações dos pais quando os filhos saem de casa. Um processo que se dá aos poucos, pois o bebe, inicialmente é completamente dependente da mamãe, o que nós chamamos de dependência absoluta, e aos poucos ele depende menos e menos, chegando à fase da dependência relativa, que é quando ele já pode se vestir, cuidar da higiene pessoal, sair com os amigos, mas ainda depende tanto financeiramente de seus pais, quanto, de suas orientações, uma vez que ainda não desenvolveu maturidade para muitas questões da vida, e se tudo correr bem, ele atingirá a independência.
Você concordará que este é um motivo de alegria para os pais que podem constatar que educaram bem seus filhos, cultivando neles a capacidade de olharem por si mesmos, e, paradoxalmente, ao mesmo tempo em que os pais se orgulham de seus filhos que desenvolveram suas asas e aprenderam a voar rumo a seus destinos, são tomados por um sentimento de tristeza e de vazio interior, uma dor humana que lhes sussurra aos ouvidos: “Eles se foram, e agora? O que você vai fazer de sua vida? Do que vai se ocupar? Você já não é mais útil. Ninguém mais depende de você. Eles encontraram pessoas mais importantes para as suas vidas do que você…” E este drama interno acontece, não porque seus filhos não dependem mais de você, mas, porque você é que dependente deles, você depende daquela dependência que eles tinham por você.
Portanto, esta dor d’alma surge quando os filhos crescem e, por conseguinte dependem cada vez menos dos pais, até que chega o momento de se ligar afetivamente a outras pessoas e os pais vão se sentindo cada vez menos e menos importantes, ou melhor, penso que a palavra que caberia aqui é vitais, para seus filhos e olham para o lar onde vivem há algumas dezenas de anos e não o reconhecem mais, pois, naquele sofá em que as crianças viviam pulando, só existem almofadas assustadoramente bem assentadas e há muito tempo não mexidas. As guloseimas que desapareciam da geladeira, acabam por estragar e terem que ser lançadas ao lixo, e a atual limpeza e arrumação da casa, elementos, outrora tão almejados, transformaram-se no símbolo da passagem do tempo. Um tempo que se foi, e quando era presente, talvez, em momentos de desatenção, até, que fora bem aproveitado, mas só agora é possível se dar conta do quanto esta fase maravilhosa também fora desperdiçada por nossas pequenas neuroses humanas, tais como, mania de arrumação, ordem, exigências e cobranças que em muitos momentos engoliram grandes fatias desta bela etapa da vida.
É nestes momentos que os pais, em geral mais a mãe, porque desde o dia que ela descobriu que este filho se desenvolvia em seu ventre, julgava que este ser seria seu para sempre, só que o termo “sempre” possui um significado longo demais para a realidade. De tal modo, muitas mulheres transformam seus rebentos na principal razão de sua existência. Entretanto o filho felizardo que já sabe que é amado por seus pais, carece testar se também poderá ser amado pelo mundo, e para tanto precisa desprender-se da mãe.
E assim, da mesma maneira que para atravessarmos uma ponte necessitamos deixar a outra margem, mas sabemos que a margem anterior sempre estará lá, não irá se autodestruir só porque fizemos a travessia, a mãe também estará lá, e o reencontro trará novas possibilidades de relacionamento.
Porém, se a mãe não consegue desprender-se da antiga relação que teve com o filho para sentir-se livre e buscar uma nova maneira de com ele se relacionar, ela poderá entrar num estado de melancolia e depressão. Esta mãe que abriu mão de uma gama de possibilidades para enriquecer sua existência em prol de ser estritamente mãe, desenvolverá teorias de que seu filho é um ingrato, um ônus muito alto que o filho terá que pagar.
Para evitar toda este drama, é fundamental que a mãe possa perceber que, embora os filhos cresceram o amor não diminuiu, somente a forma de demonstrá-lo é que mudou. É importante que esta mãe procure outros afazeres que lhe deem prazer e que ela descubra que não é necessário manter vínculos de apego para ser uma pessoa inteira.
Provavelmente a mãe que não consegue aceitar que o filho cresceu e não precisa dela daquela maneira dependente ficou presa numa única função – a de mãe, e não conseguiu transitar entre os diferentes papeis que cabem a uma mulher: mãe, esposa, amiga, profissional, intelectual, esportista, mulher, envolvida em hobbies em artes, etc. Sofrerá demais, e consequentemente seu filho também. Em contrapartida, mães que transitam em seus diferentes papéis sem se fixar num só, podem até sentir saudades da infância de seus filhos, mas não sofrerão quando estes saírem rumo a sua individuação. Estas mães não fazem questão de atravessar a ponte junto com seus filhos, pois enquanto eles atravessam suas pontes, elas continuam atravessando as delas.
Léa Michaan
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