Exclusão e Rejeição, dois sentimentos irmãos:
O sentimento de exclusão é a sensação de estar de fora. Acontece quando os seguintes pensamentos invadem nossas mentes: “todos estão inseridos e só eu fiquei de fora”; “querem à todos, só não querem a mim”; “acolhem todos menos a mim”. Estes pensamentos têm um grande viés, principalmente na palavra todos, pense melhor e verá que além de você muitos e muitos outros também não foram inseridos, porque na realidade é impossível inserir a todos em tudo. Mas é assim que nos sentimos.
Este sentimento todos nós, seres humanos sentimos pela primeira vez na vida quando somos crianças e acreditamos ser o centro do universo. Porém, gradualmente, nos frustramos, e percebemos que o universo vive muito bem obrigado sem a gente. A exclusão acontecia a cada vez que não compreendíamos as conversas dos adultos e não participávamos do universo dos marmanjos, quando tínhamos que ir para o quarto e o papai e mamãe ficavam na sala, ou quando papai e mamãe iam para o quarto deles e ficávamos sozinhos no nosso quarto. Quando papai e mamãe se olhavam e diziam coisas um para o outro e nós ficávamos de fora, sentindo-nos excluídos. Então descobrimos que não éramos o centro do universo. Isto gerou uma dor e esta dor volta a cada vez que acontecem eventos nos quais não estamos incluídos. Dependendo de como esta fase da infância de nossas vidas tenha sido elaborada e, consequentemente, de como anda a nossa autoestima, lidamos melhor ou pior com o sentimento de exclusão.
A rejeição é um pouco diferente, acontece quando somos negados, tal qual um organismo nega o transplante de um novo órgão. Acontece quando uma mãe sente desejo de abortar um bebe; quando um bebe precisa de colo, afeto, carinho e não recebe; quando a criança corre para abraçar a mamãe ou o papai e o abraço não é retribuído; quando a criança pede um elogio e é rechaçada; quando uma criança solicita carinho e recebe um afastamento ou uma explosão num grito. Este sentimento também todos nós já sentimos na vida e de alguma maneira, uns menos outros mais, isto ficou marcado em nós.
Toda criança sentiu em algum nível os sentimentos de exclusão e rejeição porque uma criança pequena é demasiadamente dependente, insegura, insuficiente e vulnerável, uma vez que ela não tem um aparelho psíquico suficientemente desenvolvido, é tão dependente do outro. Quando ela vê que o papai e a mamãe realizarem coisas que para ela são impossíveis como andar, falar, escrever, cozinhar, carregar uma cadeira ou amarrar o cadarço do tênis com perfeição, estes se tornam seus heróis e sua necessidade de receber afeto e atenção destes pais é excessiva, por isso, é impossível não frustrar. E a frustração moderada é fundamental para a criança crescer e amadurecer.
Exclusão e Rejeição são sentimentos parecidos, mas a rejeição é mais forte. Na exclusão nosso desejo de estar junto é secreto, nós não solicitamos algo que nos é negado. Na rejeição corremos de braços abertos para sermos recebidos e somos amputados. Por isso há uma profunda decepção. Na rejeição íamos ao encontro do nosso desejo de receber o afeto e fomos decepados emocional e psiquicamente. Isto dói mais.
Estes sentimentos nos marcam e nos acompanham durante a vida deixando feridas e quando o outro que não nos adivinha os desejos, nos frustra não correspondendo as nossas expectativas, as antigas feridas voltam a doer.
Como nos curamos desses sentimentos? A verdade é que não sei se já descobriram a cura total, mas é possível amenizar a dor – Compreendendo que muitas vezes nós gostamos de algumas pessoas mais do que elas gostam de nós, e o oposto também acontece, só que nós, muitas vezes nem ficamos sabendo.
O principal é saber que o fato delas não gostarem de nós na mesma medida em que gostamos delas, não significa que somos menos, ou não merecedores de investimentos. O outro tem o direito de demonstrar ou não o amor dele para quem ele quiser, e nós não precisamos nos sentir tão dependentes a ponto de não gostarmos de nós mesmos só porque alguém não gosta.
Léa Michaan, 27/03/2011
Ciúmes -Ou você derrota o ciúmes ou ele derrota você!
Ciúme é a três, enquanto que a inveja é a dois.
Os três sujeitos do ciúme são: aquele que sente o ciúme (sujeito ativo); aquele de quem se sente o ciúme (sujeito analítico) e aquele que é o motivo do ciúme.
Se sinto ciúme especificamente de tal pessoa, é porque aquela pessoa despertou algum sentimento em mim, achei-a interessante, bela ou atraente e eu projeto na pessoa “amada”.
Uma dose de ciúmes até faz bem para o relacionamento porque é sinal que eu valorizo a pessoa amada e reconheço que não sou dona dela e ela tem todo o direito de se apaixonar por outra pessoa. Mas o ciúme exagerado faz mal e pode até estragar a relação. Esta relação que tenho tanto medo de perder eu mesmo acabo estragando com o ciúme exagerado. Inconscientemente tenho tanto medo de perder porque “sei”que vou estragar. Projeto para fora o perigo que esta dentro de mim.
O ciúme está relacionado com a falta de autoconfiança, insegurança e baixa autoestima. Quando sinto ciúmes tenho medo e vergonha de perder a pessoa amada. Quando o ciúme é exagerado pode tornar-se uma obsessão. E porque o ciúme fica exagerado? Simplesmente porque eu super-investi na pessoa amada. O que significa isso? Provavelmente carrego carências afetivas de longa data, quase sempre desde a infância e agora espero que a pessoa amada recompense toda a falta de amor que vivi. Ela representa meu pai, minha mãe, e o homem ou a mulher da minha vida. Mas, é impossível compensar. Em primeiro lugar porque já não sou mais a criança de outrora, e por mais que receba amor a criança carente que fui continuará carente; em segundo lugar porque estou tão carente e desejo absorver tanto do outro que se ele entrar nesta relação será simbiótica e patológica ou acabo afastando o outro de mim.
Além disso, tenho tanto medo de perder a pessoa amada porque depositei nela a minha estima, minha razão de viver. Portanto perde-la, é tão penoso quanto perder a mim mesmo. A dor é tanta que parece um fogo a me queimar.
Por isso o outro não pode representar nosso objeto de vida. É importante poder transitar entre os diversos papeis que podemos ocupar: mulher, mãe, profissional, amiga, esportista, ter hobbies e investir em várias e diferentes áreas do viver.
Se o ciúme é exagerado, pode ser que sofri muito na infância sentindo-me excluída do relacionamento de meus pais a tal ponto que me traumatizou. E ao ver a pessoa amada olhando para outra pessoa a dor volta com toda a intensidade desencadeando o medo de reviver o sentimento de exclusão, rejeição e abandono novamente e desenvolvo uma paranoia.
Nesse tipo de paranoia, a pessoa está convencida, sem motivo justo ou evidente, da infidelidade do parceiro e passa a procurar “evidências” da traição. Nas formas mais exacerbadas, o ciumento passa a exigir do outro coisas que limitam a liberdade deste.
Qual é a cura para os ciúmes? 1- Elaboração da carência na fase de quando éramos crianças; 2- Desenvolver o diálogo interno: ter uma parte preservada de si que faz com que a pessoa se perceba e se conheça melhor para poder transformar o que é precário nele mesmo, caso contrário destruirá os relacionamentos e a si proprio; 3- Por meio da analise, melhorar a autoestima e concomitantemente a autoconfiança e segurança.
Ou você derrota o ciúmes ou ele derrota você!
Autoestima
Para mantermos boas relações é importante termos uma autoestima positiva. Você pode me dizer que a sua autoestima esta baixa porque quando era criança seus pais não lhe davam a devida atenção e importância. Você pode ter razão, mas é inútil ficar preso a falta de atenção ou ao que você acha que foi falta de “mil anos atrás”. A atenção que você precisava quando criança, já não precisa mais, aquela fase passou e quem precisa lhe dar atenção agora é você. Em primeiro lugar, porque o fato que seus pais não lhe deram valor, não significa que você não era digno de ser valorizado. Talvez seus pais não deram porque estavam com problemas e não puderam dar. O fato de seus pais não lhe darem importância não significa que você não é importante e valioso. É preciso desvincular o fato deles não lhe darem valor com o valor que lhe é devido. Uma coisa não tem nada haver com a outra. E como disse Sartre: “O importante não é o que a vida fez com você, mas o que você fez com você mesmo, apesar do que a vida fez com você”.
É importante que possamos nos libertar das amarras que nos prendem desde a época de criança.
Como, então construímos uma autoestima positiva? Desenvolvendo o relacionamento eu-comigo. Quanto mais desenvolvemos o dialogo interno, nos percebemos, nos conhecemos, caminhamos em direção àquilo que desejamos ser e que se ajusta com nós. Maior será o nosso valor como pessoa. E qual é o valor de uma pessoa? O valor das coisas são seus preços, e de uma pessoa é a sua dignidade.
Quando nos relacionamos com nós mesmos, desenvolvemos nosso aparelho para pensar e as normas começam a ser introjetadas não como algo que vem de fora e eu acato como um robô, mas como algo que faz sentido e eu faço porque entendo. Já começo a me valorizar mais. Além disso, sinto que em mim tem algo com o qual posso contar, confiar e que é valioso, se não desenvolvo relacionamento comigo mesmo sinto-me oco, vazio e preciso desesperadamente da companhia de alguém porque senão só me resta ausência.
Torno-me companheiro de mim mesmo, não me desmancho só porque o outro não aceita alguma característica minha, ou porque discorda do que faço ou digo. Se alguém fala mal de mim, não fico “ofendidinho”, porque entendo que a boca é dele e ele fala o que quiser. O que ele diz por mais que seja “mal de mim” não me desqualifica. Se acaso me sentir tão ofendido com as palavras do outro em ralação a mim, é porque “enganchou” com algo negativo que penso, inconscientemente de mim. Quanto mais ganchos tenho, menos autoestima positiva e mais fico ofendido com os outros.
Se minha autoestima está boa não preciso que os outros a elevem. Não mendigo aceitação e elogios para compensar aquilo que não posso oferecer a mim mesmo.
Por fim, quanto melhor for a minha relação comigo mesmo, melhor será a minha autoestima, que é diferente de se achar o “máximo” e se penso isso de mim, não resta espaço para crescer. E se não vou para frente, só posso ir para trás, já que estamos sempre em movimento. Uma boa autoestima é se conhecer e saber das próprias precariedades e aceita-las e só então, tentar superá-las.
Por fim, se eu não gostar de mim mesmo, dificilmente farei com que o outro goste.
Em contrapartida, se gosto de mim, este sentimento se irradia e também posso gostar genuinamente do outro e desenvolver relacionamentos verdadeiros, positivos, criativos e construtivos.
O segredo para desenvolver uma autoestima positiva? Dialogue consigo mesmo! Relacione-se com você mesmo. Como? Tenha sempre uma parte (como por cima da carne seca) de você que te observa que te percebe e dialogue com esta parte. Em outras palavras – Desenvolva seu aparelho para pensar de forma útil e produtiva sobre você!
Léa Michaan
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